domingo, outubro 13, 2013

A plenitude do instante


Pinceladas rápidas. Pinceladas rápidas e múltiplas, nervosas e rítmicas, ondulantes, fragmentadas, descontraídas. Pinceladas rápidas e múltiplas, nervosas e rítmicas, ondulantes, fragmentadas, descontínuas.

O quadro O Grito de Munch berrava tons entre vermelho roxo laranja e não se ouvia o grito mas sim as cores suplicantes e foi aí que folheando um livro de física me revoltou o fato de as cores serem uma ilusão e isto é uma advertência de que tudo o mais pode ser ilusório quer dizer não existem de fato as cores e uma mesa vermelha não é uma mesa vermelha é a ilusão do vermelho presente e na verdade a cor é a capacidade dos objetos sugarem a luz como esponjas que umedecem o azul dos quadros de Picasso.

– Quer dizer que nós nunca vimos mesmo o azul? – ela pergunta, olhando nos olhos dele, que eram profundamente azuis.






* Miniconto de Marlova Aseff

sábado, julho 20, 2013

Miniconto doméstico

A lâmina da faca penetra docemente a polpa do tomate. Parece carne... "Minhas sopas estão cada vez melhores", penso, satisfeita. E não apenas cozinho, mas também costuro. Minhas especialidades são as galinhas e os elefantes. Sim, galinhas e elefantes, de feltro, bichinhos coloridos.
Não existem mais mulheres como eu, que se dignam a chorar cortando uma cebola! Estraçalho os vegetais com a faca afiada, rápida e fatal como uma metralhadora. Também gosto do liquidificador e do aspirador de pó, ou de  qualquer outro eletrodoméstico barulhento que possa tirar a sua paz. É como gritar, mas sem precisar abrir a boca.

Reciclando textos (1)


“O homem que não é capaz de
enfrentar o seu passado, não tem passado;
ou melhor, nunca sai dele,
vive eternamente dentro dele.”
Schelling



Barcelona (2005) - Andando pelas ruelas da Cidade Velha, percebo que o passado vive no presente. A atmosfera deste espaço real me leva a pensar em uma arqueologia de mim mesma (quantas cidades soterradas, quantas camadas por escavar?) Desvendar o passado para encontrar a liberdade de seguir adiante e dizer "Meu tempo é hoje", como cantou Paulinho da Viola.