segunda-feira, novembro 02, 2009

Resenha: Borges y la traducción. La irreverencia de la periferia

En Borges y la traducción, Sergio Waisman examina el papel de la traducción en la obra del más célebre escritor argentino y también hace el camino opuesto al estudiar la importancia del mismo para la teoría de la traducción. Waisman, que es profesor de literatura latinoamericana en la George Washington University, empieza recordando que Borges fue toda su vida un traductor activo y que en sus textos “traducir y escribir se vuelven prácticas casi inseparables de la creación, de indagación hermenéutica y de reflexión estética y ética”. Waisman es traductor de autores latinoamericanos como Ricardo Piglia e Nataniel Aguirre, y su trabajo de traducción de Nombre falso y La ciudad ausente, de Piglia, ha sido lo punto de partida de las reflexiones de la presente obra.
En el primer capítulo, “Argentina y la traducción: líneas de un contexto cultural”, se discute el entorno en lo cuál Borges desarrolla sus teorías acerca de la traducción. Entre otras cosas, examina la naturaleza políglota de la literatura argentina en las décadas de 1920 e 1930, época en que Borges empieza a producir sus teorías acerca de la traducción. Waisman subraya que ese es un tiempo en lo cual la literatura argentina combina tendencias internacionales (de cuño cosmopolita) y locales (de vertiente criolla). “Desde el comienzo, pues, la traducción se vincula con la independencia cultural y la fundación de una literatura nacional; por consiguiente, con temas de identidad y representación”, concluye (p.23). Para Waisman, el papel de la traducción varía de una cultura a otra, así que la traducción, como cualquier otro modo de escritura, no es lo mismo en los márgenes que en el centro. Por eso, propone un examen de la literatura argentina por la lente de la teoría de la traducción para comprender qué significa traducir para un escritor argentino.
En el segundo capítulo, “La traducción según Borges: el desarrollo de una teoría”, el autor parte de la premisa de que aún “no se ha estudiado suficientemente la importancia que la traducción tuvo para Borges en sus implicaciones críticas y teóricas más amplias”. Para Waisman, en parte, eso es consecuencia de lo difícil que resulta interpretar y analizar las ideas de Borges y a la vez incorporarlas a la teoría. Pues Borges desplaza el acento de la tradicional búsqueda de la fidelidad en traducción y sugiere que no hay textos definitivos. De este modo, “lanza un reto irreverente al sugerir una teoría de la traducción mala, una estética del robo y la infidelidad”, dice Waisman (p.48). Al analizar el carácter de las evaluaciones que Borges hace de las traducciones de Las 1001 noches, el autor concluye que, para Borges, la deformación es inevitable y no siempre es mala.
En “La escritura como traducción” Waisman profundiza la idea de que escribir y traducir son actos sinónimos de creación. Además, con Borges, las teorías acerca de la traducción adentran al mundo de la ficción. Waisman estudia el proceso creativo de "Historia universal de la infamia", relato en lo cuál Borges se complace de practicar una "mala traducción", y analiza otros textos hasta llegar a "Pierre Menard, autor del Quijote", "el texto más importante de Borges sobre el tópico traducción", según Waisman.
“La estética de la irreverencia: mal traducir desde las márgenes” trata de cómo las teorías de Borges aumentaron el poder de la traducción periférica para crear textos nuevos. En el capítulo cinco, “Borges lee a Joyce: un encuentro en los límites de la traducción”, Waisman hace el rescate del diálogo que Borges mantuvo con la obra de Joyce en reseñas, traducciones y artículos de 1925 hasta 1982. Analiza en detalles cómo Borges pone en práctica sus teorías en la traducción de una página del Ulises que hizo para la revista Proa en 1925 y además de eso, rastrea otros puntos de encuentro entre los dos escritores.
En suma, Borges y la traducción es un libro que trae interesantes aportes para quienes se interesan por traducción en general, por la obra de Borges o por ambos temas. Y, principalmente, investiga y aclara la astuta manera como Borges ha utilizado la traducción para reposicionarse frente a las tradiciones centrales en cuanto escritor de las orillas.

Waisman, Sergio. Borges y la traducción. La irreverencia de la periferia. Traducción de Marcelo Cohen. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2005, 318 pp.

segunda-feira, outubro 26, 2009

colagem II


Esta deve ter mais de 15 anos... Fiz no tempo da Famecos.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Colagem


Quando era adolescente, gostava de fazer colagens. Ontem, fiz esta que está aí em papel e escaneei....

segunda-feira, junho 01, 2009

Leitura para "desbloquear"



Estou lendo dois livros sobre a escrita literária. O primeiro deles, eu já havia lido há tempos, só que em inglês. Trata-se de Escrevendo com a alma, de Natalie Goldberg. Conheci o original por intermédio da minha amiga Ana Menezes, que o trouxe de Nova York.
O título em inglês é Writing down the bones... Pareceu-me que o título perdeu bastante a força ao ser traduzido como Escrevendo com a alma. Escrevendo com as vísceras, ou algo assim, seria mais fiel ao espírito do trabalho, até porque a autora propõe que a escrita seja encarada como algo "físico", não somente espiritual. Ela afirma:
"O que as pessoas não percebem é que escrever é um ato físico. Não envolve apenas o pensamento. Trabalha a visão, olfato, paladar, sensações - tudo o que está vivo e ativo". Ela propõe, como método, manter as mãos em movimento, escrevendo até que se perca o controle.
Outro argumento de Natalie é que a escrita requer muito exercício; por isso, compara o ato de escrever com o de correr: "quanto mais treinamos, melhor nosso desempenho", diz . Retomando: já havia lido o livro, mas aí achei a tradução para o português, feita por Camila Lopes Campolino, em 2008, para a Martins Fontes, e resolvi reler por considerar que esse livro é muito bom no quesito "desbloquear o escritor que existe em você".
Gosto especialmente desta idéia do guru budista de Natalie, um tal Katagiri Roshi:

"A capacidade é como um manancial sob a superfície do solo".

Ou seja, é preciso prática e esforço para ter acesso a esse "rio subterrâneo" por onde fluem nossas experiências e emoções.

No capítulo intitulado "Compostagem", Natalie diz:

"A consciência leva um certo tempo para filtrar as experiências. (...) Imagine que o corpo é um depósito de lixo: acumulamos experiência e, a partir da decomposição das cascas de ovo, folhas de espinafre, pó de café e sobras de carne, descartados pela mente, surgem nitrogênio, calor e adubo. É desse solo fértil que brotam nossos poemas e histórias. (...) Mas isso leva tempo."

É a aceitação de que escrever sobre coisas significativas requer tempo e um longo mergulho do escritor em sua subjetividade. Digerir as experiências, ruminar, como dizia Nietzsche...

O outro livro que está na minha cabeceira é Para ler como um escritor, de Francine Prose (Zahar,2008, tradução de Maria Luiza Borges). Com um sobrenome desses (Prosa!), pode-se dizer que ela é uma predestinada. :) Mas vou faler sobre ele em outro post, quando eu avançar um pouco mais na leitura.

sábado, maio 30, 2009

É exercitando que se aprende!




Traduzi, em 2008, dois livros para a editora LP&M.
Ambos eram de auto-ajuda, mas nem por isso menos interessantes. Aprendi muito sobre a prática da tradução nesses trabalhos e percebi que tão difícil quanto verter de um idioma a outro, é escrever bem na nossa própria língua. Fico sempre muito decepcionada quando deixo passar batido algum erro! É impressionante como sempre algo escapa. Por esse motivo, tenho sempre na minha mesa gramáticas, dicionários de regência verbal e nominal e de sinônimos.
E, para melhorar ainda mais meu velho português, estou fazendo um curso de extensão de Revisão de Textos. Essa experiência está sendo fundamental para aprimorar meu estilo de escrita e para aguçar a percepção sobre os meus vacilos na hora de escrever.

Quem quiser saber mais sobre os livros dos quais falei é só clicar nos seguintes links:
Os homens (às vezes, infelizmente) sempre voltam
e
Amar ou depender?

Tradutor: um mediador de perdas?



Na foto, o filósofo Paul Ricoeur

Resenha de Sobre la traducción, de Paul Ricoeur. Tradução e prólogo de Patricia Wilson. Buenos Aires: Paidós, 2005, 75 pp.

O livro, editado em Buenos Aires, é uma tradução para o espanhol do original francês lançado em 2004 pela Bayard. Reúne três conferências do filósofo hermenêutico Paul Ricoeur. Os textos têm em comum a constante menção do autor aos trabalhos do teórico e tradutor francês Antoine Berman, principalmente porque a tradução como relação com o estrangeiro é um dos fios condutores da obra.
O primeiro texto, “Desafío y felicidad de la traducción”, é um discurso pronunciado no Instituto Histórico Alemão em 1997. Nele, Ricoeur parte do título do ensaio A prova do estrangeiro, de Berman, mais precisamente do fato de a tradução ser uma épreuve, termo que em francês tem o sentido de “pena experimentada” e de “prova”. Para Ricoeur, a tradução traz consigo uma certa aceitação de perda. E a tarefa do tradutor é estar nessa incômoda situação de mediador, que o coloca à prova. Por causa dessa “perda”, o trabalho da tradução, segundo ele, assemelha-se ao “trabalho do luto”, e ao “trabalho de recordar” (no sentido usado por Freud em seus ensaios psicanalíticos), e também ao “trabalho de parto”.
A tradução, por um lado, atenta contra a sacralização da chamada língua materna, e há um movimento de rechaço à experiência do estrangeiro por parte da língua de chegada. Entre o estrangeiro (representado pela obra, o autor e sua linguagem) e o leitor, interpõem-se o tradutor. Segundo Ricoeur, o rechaço da mediação com o estrangeiro e a pretensão de auto-suficiência nutriu numerosos etnocentrismos lingüísticos e pretensões de hegemonia cultural. Isso ocorreu com o latim, da Antigüidade tardia até o fim da Idade Média, com os franceses na época clássica, e com os anglo-americanos hoje em dia.
Resistência, conceito que Ricoeur toma emprestado da psicanálise, é o que o trabalho de tradução e o tradutor econtrariam em vários níveis. Por isso, para alcançar a “felicidade da tradução” seria necessário abdicar ao ideal de tradução perfeita. Ele conclui a conferência afirmando que essa felicidade deve estar na “hospitalidade lingüística”, na qual “o prazer de habitar a língua do outro é compensado pelo prazer de receber na própria casa a palavra do estrangeiro”. Há, aí, outra vez uma menção a uma obra de Berman, cujo título é La traduction et la lettre ou l´auberge du lointain [A tradução e a letra ou o albergue do distante] (veja resenha desse livro aqui no blog).
O excerto seguinte, “El paradigma de la traducción”, é uma aula inaugural proferida em Paris em 1998, e o terceiro texto, intitulado “Un “pasaje”: traducir lo intraducible”, é inédito. Neles, Ricoeur trata em última instância da questão da possibilidade e da impossibilidade da tradução. Defende que há duas vias de acesso ao problema colocado pelo ato de traduzir: tomar o termo “tradução” em seu sentido estrito de transferência de uma mensagem verbal de uma língua a outra, ou tomá-lo em sentido amplo, como sinônimo de interpretação de todo conjunto significante dentro da mesma comunidade lingüística. O primeiro enfoque foi o escolhido por Berman; o segundo, por George Steiner em After Babel.
Ele aborda o debate sobre a diversidade das línguas, as diferenças e as semelhanças possíveis entre as mesmas, e a utopia da língua perfeita. Primeiro, diz ele, há a questão da diferença entre as línguas, em seus aspectos lexicais, fonéticos, sintáticos, etc. Além disso, as línguas são diferentes não apenas pelo fato de recortarem diferentemente o real, mas também na maneira de recompô-lo no discurso. As orações são pequenos discursos tirados de discursos maiores que são os textos. Esses, por sua vez, fazem parte de conjuntos culturais que expressam visões de mundo diferentes; e por aí vão se tornando cada vez mais complexas as relações.

*** Esta resenha foi originalmente publicada nos Cadernos de Tradução (UFSC). Para citá-la, acesse o original clicando AQUI.