sexta-feira, abril 11, 2014



Otília tinha toda uma teoria sobre o que o bordado poderia ensinar às pessoas. Ou melhor dizendo, às mulheres, uma vez que os homens não costumavam bordar.  Por exemplo, ela  dizia que a  beleza de uma coisa era diretamente proporcional à falta de pressa com que havia sido feita. Isso valia igualmente para uma receita de bolo, uma refeição, para a amizade ou para o  amor. Também falava que era melhor consertar um erro logo que ele acontece, pois depois se tornava muito mais difícil voltar atrás, e raramente isso era feito sem deixar marcas no “bordado”. Havia também a questão da escolha das cores (o contraste certo poderia ressaltar todo o potencial de beleza de um determinado tom) e da tensão com que devíamos fazer os pontos (nem frouxo demais, nem apertado demais).
E os arremates? Os arremates, ela pensava, eram a prova de que era preciso também cuidar das coisas que não são visíveis, pois elas, embora não sejam evidentes, podem ser sentidas, estão presentes de alguma forma e atestam a integridade da “coisa” em questão. E chamava a atenção para nunca descuidarmos dos fiapos soltos: parecem inofensivos, mas podem acabar com a sua paz.