Otília tinha toda uma teoria sobre
o que o bordado poderia ensinar às pessoas. Ou melhor dizendo, às mulheres, uma
vez que os homens não costumavam bordar.
Por exemplo, ela dizia que a beleza de uma
coisa era diretamente proporcional à falta de pressa com que havia sido feita. Isso
valia igualmente para uma receita de bolo, uma refeição, para a amizade ou para
o amor. Também falava que era melhor
consertar um erro logo que ele acontece, pois depois se tornava muito mais
difícil voltar atrás, e raramente isso era feito sem deixar marcas no “bordado”.
Havia também a questão da escolha das cores (o contraste certo poderia ressaltar
todo o potencial de beleza de um determinado tom) e da tensão com que devíamos fazer os pontos
(nem frouxo demais, nem apertado demais).
E os arremates? Os arremates, ela
pensava, eram a prova de que era preciso também cuidar das coisas que não são visíveis,
pois elas, embora não sejam evidentes, podem ser sentidas, estão presentes de
alguma forma e atestam a integridade da “coisa” em questão. E chamava a atenção
para nunca descuidarmos dos fiapos soltos: parecem inofensivos, mas podem
acabar com a sua paz.